domingo, 3 de outubro de 2010

Adão era


Adão era, entre coisas, o homem mais bonito da Terra.
A beleza é uma espécie primal de graça. É muito conveniente, na verdade, que graça signifique, basicamente, beleza. Poucas coisas são tão descaradamente gratuitas quanto a beleza. Em sua forma pura, talvez a sua única, a beleza não existe condicionalmente nem como recompensa. É arbitrária, imprevista, fora de propósito. A beleza é.
Antes que pudesse estremecer com a vergonha, a coragem ou a virtude, o Homem já era bonito.
Como todo mundo, Adão precisaria de tempo para fazer vir à tona as demais facetas da sua personalidade. Não sabemos, só de olhar para a estátua de barro, se há nele força moral, inteligência, perseverança, generosidade. Mas antes mesmo da consciência, que é outra espécie de graça, antes que o Homem abrisse os olhos para a beleza do mundo e para sua própria, já estava tudo, esplendidamente, lá.
Por um momento, antes de sujar as mãos de barro, apenas Deus, sozinho, contemplou a beleza do mundo e viu que ele era bom. Por um momento, no momento seguinte, apenas Deus observou em silêncio solene a beleza de Adão.
Por um momento houve apenas graça.

Gentilmente cedido por   PAULO BRABO

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