terça-feira, 15 de maio de 2012

Compra premiada, ou conto do paco?







Religiosidade, crenças, adoração a deuses ou qualquer outro tipo de fobia inserida na mente de crianças é de uma violência ímpar e o ato me causa ojeriza.


No entanto por ser uma vítima consciente das seqüelas causadas pelo cristianismo em minha família, sempre abordo o assunto com indignação. Causas ancestrais é o motivo desta indignação. As principais: Um Bisavô, uma Avó e um primo distante.


O primeiro; meu bisavô materno que foi um apaixonado pastor e fundador da 1ª Igreja Batista de Vitória da Conquista (BA), onde a família era radicada. Regia sua vida baseada nos preceitos, nos ensinamentos e no amor a seu Deus. Foi um fiel seguidor de seu Deus e a ele dedicou sua vida. Não era um aproveitador.


Sem delongas... Morreu na meia idade, louco, pobre e enjaulado numa suja gaiola que não serviria para seu chiqueiro em tempos áureos. Mas não perdeu a fé mesmo tendo a doença e a pobreza como prêmios. Seguiu o exemplo de Jó. E daí?...


A  segunda foi minha avó. Era proprietária de hotel, tinha fazenda e era matriarca de uma família numerosa com cinco filhos e vinte  netos. Crente fervorosa e sustentáculo da 1ª Igreja Batista de Montanha (ES). Mantinha uma escola de ensino fundamental dentro da congregação com a intenção de ajudar aos membros desfavorecidos. Pastores, palestrantes e conferencistas hospedavam em seu hotel como brinde à igreja.


Nada fazia sem a permissão de Deus através de muita oração e um dízimo de 10% de sua renda.  Com a anuência de seu Deus, casou a filha caçula com um bêbado iniciando sua ruína familiar pelo desgosto. Passou a velhice roendo beira de penico morrendo em extrema pobreza sem acusar seu Deus pelo infortúnio nem se afastar de sua bíblia. Eu não entendi este prêmio.


O terceiro, um primo distante, também fervoroso cristão da seita Batista, era fazendeiro, dono de laticínio, avião e muitos bens. Construiu a 1ª Igreja Batista na Praça da República em Belém do Pará. Amava seu Deus sobre todas as coisas e tinha convicção da sua fé. Também recebeu como prêmio, na velhice, a doença e a pobreza. Não existe castigo pior que a desventura para quem um dia foi feliz.
Será este o prêmio oferecido pelo Deus de Abraão aos que dedicam sua vida para engrandecer e louvar seu nome?


Não, ele não promete nada, ele não premia ninguém, ele não castiga ninguém, ele não adoece e tampouco cura ninguém, ele não traz bonança nem infortúnio a ninguém. Deus é um personagem psíquico alegórico criado pelo nosso inconsciente coletivo para preencher uma lacuna onde necessitava liderança e comando. Nós, por falta de paternidade, o escolhemos e lhe imputamos poderes, bênçãos e castigos. Por isso cada sociedade tem seu Deus para adorar, reclamar, pedir e imputar infortúnios.


Mas há aqueles que não se enganam e são chamados ateus. Nesta mesma família existiram alguns que não professavam a mesma fé, como meu pai. Nunca foi em igrejas, não dava esmolas, não sabia rezar nem xingava a Deus. Foi bom marido, bom pai, foi respeitado em sua sociedade. Tinha personalidade forte e caráter ilibado transferindo suas virtudes à sua prole da qual se orgulhava. Morreu aos 92 anos sem que a miséria  nem o infortúnio batesse à sua porta. Para o meu avô, a morte não foi um dissabor. Ele se preparou para recebê-la e morreu com a sensação de dever cumprido. Foi amado por familiares e conhecidos e era chamado de vovô por quem teve o prazer de lhe ser apresentado. Ficou conhecido e respeitado pelo “ser”, e não pelo ter. Sabia rezar, dava esmolas, dividia o que tinha mas não freqüentava igreja. Morreu por falência múltipla de órgãos.


Tenho 62 anos de idade sou hiper tenso, tenho cálculo renal e sou propenso a engordar. Não dou esmolas, não rezo, só sigo um mandamento (não fazer aos outros o que não desejo para mim), odeio a pobreza e não sou batizado nem almejo ser cristão. Se eu morrer amanhã, não foi castigo de Deus  fui vítima de minha própria imbecilidade.

Tenho consciência que não posso culpar Deus pelo infortúnio de alguns familiares nem agradecê-lo pela felicidade de outros. Ele não existe para uns, assim como não existe para  outros. Deus não presenteia carro para uns e miséria para outros.

“Quem dá o pão, não dá o castigo”. Quem dá o pão, ensina. E quem não dá o pão nem ensina não tem o direito de castigar.   ”A nossa mente tem poderes  até para criar deuses  para louvar”.

Via: Confraria dos pensadores fora da gaiola
Autor: Altamirando Macedo 

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