segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fundamentalismo


Por Donizete

Essa breve reflexão, serve como um convite para melhor entendermos o fenômeno e criar clareza sobre este tema tão polêmico, para podermos nós mesmos superar certas dimensões fundamentalistas embutidas em nossa cultura, quem sabe até em certos comportamentos pessoais.

Na verdade o termo fundamentalismo tornou-se a palavra de acusação em voga. Entretanto fundamentalista é sempre o outro. Quando é aplicado para nós mesmos, geralmente preferimos o emprego de outros termos.

Existem fundamentalismos em todas as áreas, ainda que em muitas delas, preferem o uso do termo “radicalismo”. Ele está presente nas religiões, na política, na economia, e, em tantas outras ideologias. Os fundamentalismos estão aí com grande ferocidade, e representa um risco para a pacífica convivência humana e para o futuro da humanidade.

O fundamentalismo cristão atual, que é o objeto de discussão nesta postagem, tem sua origem no protestantismo norte americano do século XIX. O termo foi cunhado em 1915, quando professores de teologia da universidade de Princeton (numa contra ofensiva ao liberalismo teológico nascente)  publicaram uma coleção de doze volumes com o título: “fundamentalismo. Um testemunho da verdade”.

Neles propunham um cristianismo extremamente rigoroso, ortodoxo, dogmático, como orientação contra a avalanche de modernização de que era tomada a sociedade norte americana.

A tese dos fundamentalistas no âmbito religioso é afirmar que a Bíblia constitui o fundamento básico da fé cristã e deve ser tomada ao pé da letra. O fundamento de tudo para a fé protestante é a Bíblia. Cada palavra, cada sílaba e cada vírgula, dizem os fundamentalistas, é inspirada por Deus. Como Deus não pode errar, então tudo na Bíblia é verdadeiro e sem qualquer erro. Como Deus é imutável, sua palavra e suas sentenças também o são. Valem para sempre.

Em nome deste literalismo, os fiéis opunham-se às interpretações da assim chamada teologia liberal. Esta usava os métodos histórico-críticos e hermenêuticos para interpretar textos escritos há dois, três mil anos.

Nos métodos supracitados, parte-se do princípio de que a história e as palavras não ficaram congeladas no passado. Elas mudam de sentido ou ganham novas ressonâncias com as mudanças dos contextos históricos. Por isso precisam ser interpretadas para que seja resgatado o sentido original.

Este procedimento para os fundamentalistas é ofensivo a Deus, obra de Satanás. A Bíblia, não precisa ser interpretada, ela á a Palavra de Deus, e o Espírito Santo ilumina as pessoas para compreender os textos. Por razões semelhantes se opõem aos avanços contemporâneos da história, das ciências, da geografia e especialmente da biologia que possam questionar a verdade bíblica.

Para o fundamentalista, a criação se realizou mesmo em sete dias. O ser humano foi feito literalmente de barro. Eva é tirada da costela física de Adão. O preceito “crescei e multiplicai-vos, enchei e subjugai a terra, dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre tudo o que vive e se move sobre a terra” deve ser tomado estritamente ao pé da letra, pouco importando-se essa dominação venha por em risco a biosfera. Mais ainda: só Jesus é o caminho, a verdade e a vida, o único e suficiente salvador. Fora dele há somente perdição.

Em face dos demais caminhos, o fundamentalismo é intolerante, na moral é especialmente inflexível, particularmente no que concerne a sexualidade e a família. É contra os homossexuais, o movimento feminista e os demais processos libertários em geral.

O fundamentalismo não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserção no processo sempre variável da história.

Fundamentalismo representa aquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista.
Imediatamente surge grave conseqüência: quem se sente portador de uma verdade absoluta não pode tolerar outra verdade, e seu destino é a intolerância. E a intolerância gera o desprezo do outro, e o desprezo, a agressividade, e a agressividade, a guerra contra o erro a ser combatido e exterminado. Irrompem conflitos religiosos com incontáveis vítimas.

Não há ninguém mais guerreiro do que a tradição dos filhos de Abraão: judeus, cristãos e muçulmanos. Cada qual vive da convicção tribalista de ser o povo escolhido e o portador exclusivo da revelação do Deus único e verdadeiro.

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